4 de julho de 2016

RICHARD CHASE, O VAMPIRO DE SACRAMENTO


Por Bernardo de Azevedo e Souza e Henrique Saibro
“Se eu devorei essas pessoas foi porque eu estava com fome e morrendo” (Richard Chase)
PERSONALIDADE
Richard Trenton Chase nasceu em 23 de maio de 1950. Criou-se como filho mais velho de um casal com sérios problemas conjugais. Pode-se dizer que união não era o forte de seus pais. O maior problema era o seu genitor, um homem extremamente autoritário e violento. Era um coronel dentro de casa. Nada que Richard fazia agradava o pai. Tudo era motivo de crítica e razão para ser insultado. A bem da verdade, Chase experimentava uma ditadura paterna. Talvez em razão de tanto autoritarismo (e pouco afeto), desde muito cedo começou a desenvolver comportamentos clássicos de psicopatia. Ao invés de brincar de boneco e jogar bola, preferia botar fogo em tudo o que via. Sim, Chase era uma criança piromaníaca. Ainda, sua brincadeira favorita era torturar animais – especialmente de estimação.

Seus pais logo se divorciaram e Chase passou a morar com a sua mãe. Na adolescência, achou um refúgio para tanta frustração: drogas. Richard passou a viver um mundo paralelo de drogadição. Alguns médicos entenderam que, dado o abuso de tóxicos pesados, Chase desenvolveu um grau avançado de esquizofrenia – mas a droga, nesse caso, era o que menos tinha culpa. Richard também sofria sérios problemas de ereção. Naturalmente era quase impossível ter relações sexuais. Vejam que era mais um desgosto na vida do jovem Chase.
Chase na adolescência: problemas com drogas e impotência sexual
A transição da adolescência para a sua fase adulta é pobre em relatos. Entretanto, quando os crimes praticados por Richard ainda estavam pendentes de indicação de autoria, a polícia californiana solicitou a dois profilers do FBI, Roberto Ressler e Russ Vorpagel, que traçassem um perfil do suposto criminoso que vinha assombrando a cidade de Sacramento. Curiosamente, ambos indicaram as seguintes características que, mesmo sem conhecerem Chase, fechava exatamente com os seus traços: desorganizado; psicótico; tinha, no máximo, 30 anos de idade; homem branco (questões estatísticas relacionadas a esse tipo de crime); extremamente desorganizado e não planejava os seus delitos; não refletia acerca das consequências dos graves crimes por ele cometidos (típico de um psicopata); indiferente com a sua aparência; a sua casa devia ser uma bagunça e suja; possuía dificuldade em manter-se em um emprego; magro e subnutrido.
Todos esses atributos fechavam com Richard Chase, mas havia uma peculiaridade que ficou de lado: a Síndrome de Renfield, ou, simplesmente, vampirismo: uma patologia que torna uma pessoa viciada e necessitada em beber sangue – de animal e/ou de humano. Há quatro estágios progressivos nessa doença. No primeiro, normalmente em razão do sofrimento de um trauma de difícil assimilação, a criança associa o sangue a algo positivo – em algumas ocasiões até excitante. No segundo, o sujeito passa a beber o próprio sangue; em determinadas circunstâncias, a vontade é tamanha que o sujeito se mutila para satisfazer a sua compulsão. No terceiro, escolhe-se um “objeto exterior”, que, no caso, restringe-se a animais (zoofagia). E, num grau mais avançado – mas também mais raro –, a pessoa, literalmente, transforma-se em um vampiro. Ou seja, passa a beber sangue humano. Geralmente, o “vampiro” furta sangue de hospitais e de laboratórios. No caso de Richard, ele também furtava. Mas furtava vidas.
OS CRIMES
Como já referido anteriormente, Chase não era uma pessoa organizada – e assim portava-se em relação ao seu modus operandi. Entretanto, havia uma prática que nunca deixava de fazê-la. Adivinhe? Essa mesmo. Ele sempre bebia o sangue de suas vítimas. Mas, em regra, seus crimes eram desorientados e brutais.
Eis o exemplo de Teresa Wallin. Ela era casada com David e estava grávida de três meses. Quando seu marido chegou em casa, no dia 23 de janeiro de 1978, encontrou a sua esposa no seguinte estado: estava estirada no chão de costas com a sua blusa arregaçada, de modo a mostrar os seus seios. A sua calça e a sua calcinha encontravam-se esticadas até o joelho – era claramente um cenário de abuso sexual. Além disso, o seu mamilo esquerdo estava decepado e o seu torso totalmente aberto. O intestino estava atirado ao lado do corpo. Seus pulmões, diafragma, fígado e seio esquerdo estavam dilacerados por facadas. Os rins haviam sido arrancados e acoplados dentro da barriga e o seu pâncreas cortado ao meio.
Richard era um assassino bizarro: deixou fezes de algum animal entupindo a boca de sua vítima. Em volta do corpo de Teresa haviam círculos e pegadas de sangue. Fora isso, foram localizados dois projéteis de arma de fogo na cabeça da vítima e outro no seu pescoço. De acordo com as autoridades policiais na época, o banheiro era um verdadeiro mar de sangue e havia um copo sujo de iogurte vazio. Posteriormente foi constatado que Richard utilizava esse recipiente para saciar a sua sede de sangue.
Evelyn Miroth e seu filho Jason também foram vítimas de ummodus operandi para lá de hediondo. No caso, Evelyn foi encontrada morta em sua casa totalmente nua sobre a cama de seu quarto e com as pernas abertas. O seu abdômen estava todo cortado e eviscerado. Vestígios indicavam a prática de sexo anal, na medida em que fora coletada uma quantia considerável de esperma no ânus da vítima. Evelyn sofreu um corte do ânus até o útero. Sua vulva estava totalmente dilacerada. Sem falar que seu pescoço sofrera diversos golpes de faca e havia indícios de que Richard tentara arrancar um de seus olhos. Além disso, foi baleada na cabeça. No local do crime, foram encontrados círculos e pegadas de sangue – como na casa de Teresa.
O banheiro estava todo ensanguentado, mas sem corpos. Depois constatou-se que Chase transportava o sangue de suas presas para o banheiro e, no local, deleitava-se bebendo sangue. O filho de Evelyn, Jason, também não teve a mesma sorte. Foi encontrado com dois projéteis acopladas na cabeça. O pior foi que, no mesmo momento em que encontrados os corpos, chegou à cena do crime uma mulher de nome Karen Ferreira, que disse que estava procurando o seu filho, de apenas um ano e dez meses, que havia ficado todo o dia com a sua tia Evelyn.
Todavia, a criança não estava lá e as expectativas não eram boas; pelo contrário. É que os policiais localizaram um furo, proveniente de um disparo por arma de fogo, no travesseiro do berço onde estava o infante – além de muito sangue. Igualmente, partes de cérebro de criança foram apreendidos na banheira, onde Richard havia começado o processo de mutilação, mas, ao ouvir movimentação pela casa, fugiu e levou o corpo consigo. Além das vítimas indicadas Ambrose Griffin e Dan Meredith também foram assassinadas, com toda a frieza peculiar de Chase.
O vampiro de Sacramento é preso pelas autoridades policiais
O JULGAMENTO
Em 1979, Richard Chase foi conduzido a julgamento por seis homicídios, sendo um deles o do bebê Ferreira, que havia sido decapitado e encontrado no interior de uma igreja. A Acusação foi representada por Ronald W. Tochterman. O Promotor buscou demonstrar que Richard Chase não matava compulsivamente, mas de forma premeditada. Disse aos jurados que o réu comprava utensílios (como luvas de borracha) antes de encontrar as vítimas com a clara intenção de matar. Para Tochterman, Chase era um sádico sexual, um monstro que sabia exatamente o que estava fazendo, motivo pelo qual merecia ser condenado à pena de morte pelos assassinatos.
Richard Chase chegando em seu julgamento
Com a maioria das provas a seu desfavor, especialmente os depoimentos dos psiquiatras (para os quais inexistiam evidências de que o réu matava compulsivamente), a Defesa convocou Richard Chase para ser interrogado em juízo. Magro e com olhar vazio, o vampiro de Sacramento apresentava um aspecto horrível. Inicialmente, tentou reduzir a responsabilidade pelos seus crimes afirmando que foi maltratado durante toda a vida, e teve problemas sexuais na adolescência. Mas, em seguida, admitiu ter bebido o sangue de Teresa Wallin e atirado em um bebê, para depois decapitá-lo e colocar sua cabeça em um balde. Queria obter mais sangue para beber. Sem esboçar reação, disse, ao final, que sentia muito pelos crimes praticados.
Diante do teor das declarações, a Defesa enfatizou que não havia premeditação nos crimes, mas sintomas de doença mental. Tentou convencer os jurados de que Chase era insano e precisava de assistência médica urgente. Pediu a absolvição e, alternativamente – para salvá-lo da pena de morte –, um veredicto de homicídio em segundo grau, o que resultaria em prisão perpétua.
Em 8 de maio de 1979, após uma hora de deliberação, os jurados chegaram ao veredicto. Chase foi considerado legalmente são e, portanto, considerado culpado das seis acusações de assassinato em primeiro grau. Condenado a morrer na câmara de gás, o vampiro de Sacramento foi enviado à Penitenciária de San Quentin, na Califórnia.
A PRISÃO
Logo que chegou ao presídio, Chase passou temido por muitos detentos. Os presos, principalmente os companheiros de cela, não queriam sua companhia. Estavam plenamente cientes da natureza doentia dos crimes praticados e temiam eventuais ataques na calada da noite. Tentaram, por diversas vezes, convencê-lo a cometer suicídio. As ofensas levaram os superintendentes da penitenciária a transferir Chase para um hospital psiquiátrico, onde ficou por um curto período, retornando posteriormente a San Quentin.
Richard Chase na Penitenciária de San Quentin, na Califórnia
Durante o tempo em que ficou preso, Chase concedeu entrevistas aos então agentes do FBI Russ Vorpagel e Robert Ressler. A eles, disse que cometeu os crimes porque precisava do sangue das vítimas para repor o seu próprio. A explicação técnica que ofereceu aos agentes era, no mínimo, inventiva: havia sido mordido por um “coelho contaminado por ácido de bateria”, que estava transformando seu sangue em “areia”. Por isso, para impedir que seu sangue virasse “pó”, Chase era obrigado a retirar o sangue de outras pessoas e ingeri-lo. Era a única cura possível, pois, do contrário, seria transformado em “areia”…
A MORTE
Richard Chase foi encontrado morto em sua cela em 26 de dezembro de 1980. Estava em sua cama, contorcido. Segundo a autópsia, a causa mortis foi a ingestão tóxica por excesso de medicamentos (overdose). Aparentemente, Chase guardava consigo as pílulas prescritas por seu médico para fins de tratamento alucinação e depressão, e tomou-as de uma só vez. O Vampiro de Sacramento havia se autoexecutado e, com o ato, deixou em sua cela uma estranha carta de adeus. Contudo, jamais se soube se o suicídio foi cometido diante de seu complicado quadro mental ou, simplesmente, para atender os pedidos de seus colegas de encarceramento.

REFERÊNCIAS
CASOY, Ilana. Serial killers: louco ou cruel? Rio de Janeiro: Darskide, 2014.
Fonte: Canal Ciências Criminais / http://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br

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